O sono muito além da melatonina

Autora: Dra. Gigliola Peláez

Introdução:

Os distúrbios do sono-vigília ocorrem em quase 1/3 das nossas crianças e ultimamente temos visto o uso exacerbado da melatonina tanto em adultos como em crianças, como sendo uma milagrosa fonte para resolução de problemas relacionados ao sono.

Porém só a administração da melatonina, é realmente a solução?

O que é a melatonina?

O N-acetyl-5-methoxytryptamine é um importante hormônio endógeno produzido pela glândula pineal e liberado exclusivamente no período noturno. O seu uso de forma exógena tem se visto como sincronizador do ritmo circadiano, e melhora tanto o início, a duração e qualidade do sono. Porém não temos ainda seus efeitos secundários à longo prazo esclarecido.

Suplementação de oligoelementos, vitaminas e minerais:

• Vitamina D: a deficiência da vitamina D ou colecalciferol tem uma certa relação com distúrbios e baixa qualidade do sono, essa vitamina também está envolvida nas vias de produção de melatonina por isso sua deficiência deve ser resolvida para a melhoria dos sintomas, mas sua dose – resposta ainda está sendo estudada.
• Ferro: Sabe-se que a deficiência de ferro causa alterações nos aspectos comportamentais e de desenvolvimento, afetando neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina. A deficiência de ferro causa alterações comportamentais que podem ocorrer na infância e, mesmo se corrigidas no período pós-natal, podem ter efeitos duradouros até a idade adulta. Inclusive, a deficiência de ferro está presente em 2/3 das crianças portadoras da síndrome das pernas inquietas que são os movimentos involuntários e repetitivos das pernas em geral no período noturno ou quando em repouso. A Síndrome, se relaciona com hiperatividade e falta de atenção no período diurno. A suplementação deste mineral resultaria numa melhoria deste quadro que é uma das principais parassonias do sono presentes nas crianças.
• Zinco: O zinco é o oligoelemento quantitativamente mais significativo no organismo e é essencial para muitos processos biológicos. Novas evidências indicam que também pode estar envolvido na regulação do sono. Uma pesquisa recente concluiu que o zinco administrado por via oral aumenta a quantidade e a qualidade do sono. Embora o íon zinco tenha sido de pouco interesse para a comunidade científica por um longo tempo, evidências acumuladas provam que o zinco endógeno, bem como o zinco dietético disponível, é de grande importância, não apenas como um cofator enzimático, mas também como uma molécula de sinalização. Uma das funções mais inesperadas do zinco até o momento pode ser na regulação do sono, uma função fisiológica essencial compartilhada por todo o reino animal. Embora os mecanismos pelos quais o zinco regula o sono permaneçam obscuros, um rápido progresso em direção à sua elucidação deve ser antecipado.
• Magnésio: Recente estudo envolvendo 7582 pessoas de 9 publicações de tipo coorte, revisões sistemáticas e estudos transversais revisou as possíveis ligações entre o Mg e a qualidade do sono (adormecer durante o dia, sonolência, ronco e sono duração) em uma população adulta e revelou um efeito positivo entre a suplementação de magnésio e o sono tanto em tempo como em eficiência do sono.
• Ômega 3: Os ácidos graxos Ômega-3, particularmente EPA (Ácido Eicosapentaenoico) e DHA (Ácido Docosahexaenoico), têm ganhado grande destaque nas discussões sobre nutrição e saúde devido a seus benefícios comprovados para o coração, cérebro e várias funções que influenciam no sono de adultos e crianças. Um estudo recente da Nutrients, empregou um delineamento randomizado, controlado por placebo, duplo-cego, de grupos paralelos. Os participantes foram aleatoriamente designados para receber um de três tratamentos por 26 semanas (placebo, óleo rico em DHA, óleo rico em EPA). Os resultados do estudo atual mostram que a suplementação com óleo rico em DHA em adultos saudáveis ​​que não consomem habitualmente peixes oleosos resultou em um aumento significativo na eficiência do sono e uma diminuição significativa na latência do sono em comparação ao placebo.

Investigações adicionais sobre a relação entre ácidos graxos poli-insaturados ômega- 3 e a via de síntese de serotonina/melatonina e
efeitos na arquitetura do sono são necessárias.

Conclusão:

Há diversos estudos aprovando o uso da melatonina com enormes benefícios com maior destaque no sono de crianças portadoras de TEA porém é indiscutível que uma boa higiene de sono associada à suplementação de oligoelementos pode ser necessária para a melhoria absoluta da qualidade e tempo de sono. Ressaltando que a suplementação destes minerais e oligoelementos e a prescrição da melatonina deve ser sempre individualizada além de ser acompanhada de uma adequada avaliação por um pediatra e também de uma consultora de sono para um tratamento eficiente e completo dos distúrbios do sono.

Referências:

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